Romanceiro da Inconfidência

Romanceiro da Inconfidência

Romanceiro da Inconfidência - Cecília Meireles

 

Publicado em 1953, Romanceiro da Inconfidência é um poema lírico-narrativo de viés histórico que evoca em versos os personagens e o contexto da Inconfidência Mineira.

A obra destoa do conjunto de Cecília Meireles, pois ela distancia-se de sua condição de poeta neo-simbolista e dos ideais da segunda fase modernista para mergulhar no arcadismo do século 18. Pode haver confusão quanto à caracterização do “boom minerador”, o que pode se evitar se observados os elementos da tradição lendária (caçador que se embrenha na mata, a donzela assassinada pelo pai, os cantos do negro nas catas, a que se podem associar os romances Do Chico-Rei e o De Vira-e-Sai) e os elementos da tradição histórica (Chica da Silva, o ouvidor Bacelar, a cobiça do conde de Valadares e as ideias de libertação relacionadas ao momento histórico).

Forma
Romanceiro da Inconfidência é, na verdade, um grande poema em prosa composto a partir de cinco eixos temáticos: ambiente e contexto; articulação e fracasso; morte de Claudio Manuel da Costa e Tiradentes; infidelidade de Gonzaga e Alvarenga; conclusão e D. Maria I. Para o professor Marlus Geronasso, este pode ser considerado um dos livros mais difíceis do Vestibular da UFPR, porque exige do aluno um conhecimento prévio dos ideais árcades. A linguagem também pode ser um dificultador para quem conhece a obra de Cecília Meireles, já que a autora distancia-se do coloquialismo e resgata expressões em desuso da língua portuguesa.

Personagens
O leitor vai encontrar menções a conhecidos personagens da Inconfidência Mineira, como Cláudio Manuel da Costa e as circunstancias misteriosas envolvendo sua morte, o poeta árcade Tomás Antonio Gonzaga e a Marília de Dirceu, o minerador José de Alvarenga Peixoto e sua esposa Bárbara, além do mártir Tiradentes.

Tempo
Embora a obra não adote uma cronologia e passagem temporal, ela está situada no século XVIII e abrange desde o período que antecede a revolta até a morte dos inconfidentes, quando Cecília Meireles homenageia os heróis da tragédia mineira.

Espaço
A autora não faz alusões diretas ao espaço geográfico evocado na narrativa, já que sua intenção é valorizar os personagens da história, mas sabe-se que o palco dos acontecimentos é a cidade de Vila Rica, centro do poder da então capitania de Minas Gerais, hoje Ouro Preto.

Fonte: Marlus Humberto Geronasso, professor de Literatura do curso Unificado e coordenador do projeto Eureka, da TV Educativa do Paraná.

Veja exemplos de questões:

(UFPR/2008) Considere os dois poemas abaixo, de Cecília Meireles e de Ferreira Gullar:

I. Cenário
Da brenha tenebrosa aos curvos montes,
do quebrado almocafre aos anjos de ouro
que o céu sustêm nos longos horizontes,
tudo me fala e entende o tesouro
arrancado a estas Minas enganosas,
com sangue sobre a espada, a cruz e o louro.

Tudo me fala e entendo: escuto as rosas
e os girassóis destes jardins, que um dia
Altas capelas contam-me divinas
fábulas. Torres, santos e cruzeiros
apontam-me altitudes e neblinas.
foram terras e areias dolorosas,
por onde o passo da ambição rugia;
por onde se arrastava, esquartejado,
o mártir sem direito de agonia.
Escuto os alicerces que o passado
tingiu de incêndio: a voz dessas ruínas
de muros de ouro em fogo evaporado.

II. Grécia pelos olhos
Não pelos ouvidos
mas pelos olhos
chega até nós, Grécia, de deuses finados
e de heróis
pelos olhos
uma vez que
à nossa frente estão as colunas
do Partenon, patinadas,
e tudo o que se vê acima delas
é o céu atual
e vazio de Atenas
atravessado de aviões
Recolho no chão da Acrópolis
uma mínima parte
do esqueleto de Apolo
(que ali jaz,
ao pé do Erectéion, disperso,
impossível de se distinguir
Em meio a tantos fragmentos de mármore)

Sobre esses poemas, é correto afirmar:

a) A sinestesia, ou relação estabelecida entre planos sensoriais diferentes (por exemplo: visão com cheiro, olfato com gosto), está presente tanto no poema de Cecília Meireles quanto no de Ferreira Gullar.

b) O poema de Ferreira Gullar ressalta a força das ruínas gregas de fazer emergir o passado histórico da Grécia.

c) Cecília Meireles encontra em elementos concretos do presente ecos de um passado que é reconstruído poeticamente.

d) Tanto Cecília Meireles quanto Ferreira Gullar deparam-se com vestígios históricos que acabam afastando o tempo presente e fazendo o eu-lírico conviver com vozes do passado.

e) No poema de Ferreira Gullar, os elementos da contemporaneidade são associados a imagens mitológicas.

Resposta: c)

(UFPR/2007) Sobre o livro Romanceiro da inconfidência, de Cecília Meireles, considere as afirmativas a seguir:

1. Os documentos históricos legados à posteridade não esclarecem de fato certos episódios relacionados à Inconfidência Mineira. Em face dessa situação, Cecília Meireles optou por apresentar os acontecimentos e as personagens a partir de uma perspectiva lírica que prescinde de nitidez e definição.

2. O poema contém partes de elaboração clássica, metrificadas em versos longos, e outras, mais próximas das composições populares, em versos curtos.

3. Além das personagens diretamente envolvidas no movimento sedicioso do título, o poema também trata de outras, como Chica da Silva, que embora não estejam diretamente envolvidas, ajudam a compor o ambiente histórico do texto.

4. Tiradentes, o alferes que a história transformou em herói, é apresentado na obra como indivíduo ambíguo e de moral discutível, numa clara contraposição literária à imagem apresentada pelos historiadores mais conservadores.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

Resposta: a)